Arte, porque a vida por si só não deu conta dela mesma





terça-feira, 24 de agosto de 2010

“O INIMIGO MORA AO LADO”

Notas sobre uma guerra urbana



Parece filme, mas não é. Se fosse seria... ação? Terror? Não importa. Não é filme. Aliás, é realidade. Nua e crua. E bota crua nisso. Na manhã do último sábado, dia 21 de agosto, o bairro de São Conrado acordou em pânico. O som de disparos em todos os timbres, dos agudos aos mais graves estouros levou os moradores a se protegerem nos cômodos mais distantes das janelas e na rua a agitação e o desespero corriam de um lado a outro. Transeuntes abaixavam-se, passageiros saltaram de ônibus, supermercados fecharam as portas. Berros e tiros. Era o que se podia ouvir.


Alguns instantes depois, dentro de casa, telefones tocando. Intercomunicação dos moradores num movimento de preocupação generalizada. Lá fora, os trabalhadores da COMLURB largavam o caminhão batido pelo susto, e corriam para dentro de um condomínio. Da minha janela mesmo, eu podia ver... os policiais acuados atrás de um poste, um senhor agachado e uma moça chorando.


Minutos depois, no mesmo local (atrás da agência de carros Itavema) muda a cena... “Entra, entra, deixa! Entra, corre! O cara do carregamento tá vindo” – eram pessoas entrando apressadas num gol cinza chumbo. Bandidos ou cidadãos amendrontados?


Sons de helicópteros. A polícia aérea chegou! Agora viriam tiros de cima também? Em terra, eram setenta bandidos. Nem dez, nem vinte. Setenta. Setenta traficantes armados até os dentes, como no dito popular. Pistola, Fuzil, AR-15, granada! Gra-na-da! Alguém consegue imaginar isso num bairro de classe média alta, na rua atrás da sua casa? – O inaceitável, o inimaginável, chegou aqui. E agora eu sei o que a "L.", moça que trabalha aqui em casa, passa lá em cima, no morro. Lá não, ali. A Rocinha é minha vizinha bem próxima. – Pensei cá comigo. Minha empregada mora na favela da Rocinha, vê bandido todo dia. Aliás, vive topando com o poderoso chefão no caminho pra igreja. O negócio é que essa loucura não tinha que ser cotidiana nem aqui nem lá, nem ali, nem acolá, em direção nenhuma, em lugar algum. A Rocinha é do lado da minha casa e eu nunca me senti com uma arma apontada pra cabeça. Nem perto disso. Da janela do meu quarto, tenho visão periférica da favela. Cresci vendo aquela favela crescer. No ensino médio, meu ônibus ia ali por dentro. Meus porteiros moram ali, os funcionários do supermercado e do restaurante que eu freqüento aos domingos moram ali. O Nem, os setenta bandidos e muitos outros traficantes mais moram ali? “É... com a UPP nas outras favelas tem bandido de tudo quanto é canto aqui na Rocinha. Ficaram sem emprego, foram chamados pra trabalhar aqui” – do meu lado... A "L". me contou.


Passados os tiros ensurdecedores, a televisão ligada noticiava a invasão dos traficantes no conceituado Hotel Inter Continental, onde funcionários e hóspedes eram feitos reféns. As imagens mostravam pessoas saindo correndo, algumas de mala e cuia! (Como alguém arranja tempo ainda pra pegar a mala?) O BOPE e a polícia militar cercaram o prédio. E adentraram. “O que está acontecendo?” Ok, o jornal já havia anunciado – Traficantes saíram de um baile no Vidigal e estavam voltando para a favela da Rocinha. Estavam em vans e motos. No caminho encontraram com a polícia e começaram a troca de tiros. – mas era inacreditável.


São Conrado é um bairro pequeno. Todo mundo se conhece e às vezes parece até uma vila. Os moradores trocavam telefonemas, fosse pra saber de notícias, fosse pra dividir o espanto, o medo, o terror. Numa dessas que me ligou uma amiga, contando que na portaria do seu prédio, policiais entraram para se esquivar dos tiros. E por isso, vidraças do seu play e de um apartamento do segundo andar foram atingidas e estouradas pelas balas. Cápsulas de bala de fuzil no playground. Não me parece brincadeira de criança. Não?


Meu filho havia dormido com um coleguinha na casa da avó, moradora do Condomímio Village, que foi invadido por bandidos buscando fuga. É que o condomínio com nove prédios tem passagem para a outra rua... No fim da tarde, sem guerrilha e com aparente calmaria, ele veio pra minha casa e me contou que achou tudo muito engraçado. Eu fiquei pasma. Perguntei porque. “Ah, é que depois a gente ficou brincando de achar bandido foragido no condomínio” “Meu filho, você ficou na janela no meio daquele tiroteio?” “Não mamãe, na hora dos tiros eu fiquei brincando no corredor, isso foi depois” – As duas crianças de oito anos, ainda bem, acharam algo de divertido pra tirar dali. É que nós somos adultos e sabemos. Foi grave. Muito grave. Um morto, onze feridos. Que a gente saiba. Cadê a UPP da Rocinha?


Mais tarde, no Facebook, a mesma amiga do prédio onde se esquivaram os policiais postou: Ufa, passou o susto. E eu me pergunto: Pra quem? Dos setenta, só dez foram presos. O tráfico continua aí. O Ném vai sumir por alguns dias, mas daqui a uma semana ou duas, a "L." vai cruzar com ele no caminho pra igreja. Com ele, seus funcionários e todo o equipamento de última geração. A bandidagem rolando solta, a corrupção, o terror, a insegurança, a falta de estrutura educacional, de investimento em saúde. Mães continuam dormindo no papelão pra acordarem na fila de vagas na escola. E o ensino público diz: Não. Não há vagas. Os filhos vão para uma outra escola, onde tem sim uma vaga. Mas qualquer dia desses uma dessas mãe senta ao meu lado no ônibus dizendo: "Só teim sussego quando minha fia volta da escola. Ela tem que sair de lá com grupim das amiga,senão, minha fia, se não tem os que bate. Ih... tem fotógrafo estrupadô... Eu só teim sussego quando minha fia bota os pé em casa." Eu não tenho sossego enquanto minha filha não chega da escola... da escola...


É ano de eleição e a política dá cada vez mais vergonha, cheia de ladrões do mais alto escalão. Malandros de terno e gravata. E pelo visto nossos votos não servirão para muito mais do que substituirmos uns canalhas por outros. Desejo nulo de votar. A gente faz o que com isso?É o que estou me perguntando, de verdade. De verdade.






elA

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

OFICINA : PROCESSO INVESTIGAÇÃO PARA MONTAGEM DE ESPETÁCULO

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AULA INAUGURAL GRATUITA- DIA 13 DE AGOSTO (sexta) 14:30 às 17:30.
BASTA AGENDAR PELO EMAIL
escola@arteemmovimento.com.br


A proposta do trabalho é , através da investigação e construção colaborativa entre os alunos-atores e o professor-diretor, experimentar um processo de criação de um espetáculo teatral.
Com estímulo de textos literários , improvisar a partir dos viewpoints, circunstâncias estruturadas por antecedentes, objetivos e graus de relação e sistemas de interrelação - e a partir daí, construir uma peça onde todos serão co-autores do trabalho com dramaturgia finalizada pelo professor-diretor.

O espetáculo montado cumpre temporada de um mês.


INÍCIO: 20 de AGOSTO
DURAÇÃO: 4 MESES
SEXTAS E SÁBADOS
14:30 às 17:30
INVESTIMENTO: R$240,00
Atores com DRT ou ex alunos: R$215,00


O curso acontecerá na Escola de Dança e Centro Cultural Arte em Movimento.
Endereço: Estrada da gávea, 638 - São Conrado

Informações: (21)3322-1052 | (21)7612-4088 www.arteemmovimento.com.br




A primeira edição do curso de montagem foi montada em 2009 numa parceria com a Escola & Ateliê e culminou no espetáculo "Um dia de festa":


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EMENTA
Investigar os processos de construção de uma escrita cênica e dramatúrgica a partir da literatura, de improvisos, sistemas e circunstâncias.


PROGRAMA DO CURSO

Aquecimento:
. Alongamento
. Pesquisa de grupos musculares e níveis de tensão muscular;
. Exercícos de exaustão como prepração para um estado de prontidão física.


Pesquisa Dramatúrgica:

· Trabalho sobre as circunstâncias propostas para a criação de cenas e aplicabilidade das ferramentas cênicas:
- Sistemas de interrelação - Jogos com objetivos secretos para os atores, antecedentes, graus de relação na circunstância - Trechos de diálogos prédeterminados pelo professor - Depoimentos - Narrativa dos Acontecimentos - Descrição do ambiente circundante - Silêncio - Ação - - Revelação - informação secreta (monólogo interior) - Lembrança - Caracterização da personagens
· Improvisações baseadas na estruturas dos viewpoints para a criação de fragmentos de cenas
- Exercício foco-leve;
- Raia: o estímulo resposta e a visão periférica;
- Criação no espaço: relação espacial, arquitetura, forma, gesto topografia;
- Criação através do tempo: estímulo-resposta, duração, repetição, tempo (andamento);
- Criação sobre o som e a palavra: repetição, aceleração/desaceleração, tempo (andamento), dinâmica, -volume, timbre, silêncio;
- Improvisação sobre os pontos de referência adquiridos como ferramenta e vocabulário de criação


Pesquisa Cênica:

· Construção de cenas a partir de material coletado na pesquisa anterior
· Estudo de dramaturgia
· Trabalho de marcação do espetáculo com texto



Bibliografia:

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 1996.
BOGART, Anne; LANDAU, Tina. The Viewpoints Book: A Practical Guide to Viewpoints and Composition. Theatre Communications Group: 2006.
OSTROWER, Fayga. Acasos e criação artística. Rio de Janeiro: Elsevier,1999.
GUINSBURG, Jacó. Semiologia do teatro.São Paulo: Perspectiva, 2003.
BROOK, P. A Porta Aberta, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2002
WATZLAWICK, P.; BEAVIN, J.H.; JACKSON, Don D., Pragmática da Comunicação Humana, São Paulo - Editora Cultrix, 2005
LEHMANN, H.T. Teatro Pós-Dramático, São Paulo, Cosac Naify, 2007;
KELEMAN, Stanley. Anatomia Emocional, Summus, São Paulo, 1992;
GROTOWSKI, Jerzy. Teatro laboratório de Jerzy Grotowski 1959 - 1969. São Paulo: Perspectiva, 2007






quinta-feira, 5 de agosto de 2010

OS ACASOS SOMOS NÓS


Artista plástica atuante em diversas áreas (gravura, pintura, desenho, ilustração, docente, teórica), Fayga Ostrower é uma figura importante no campo das artes e possui diversas publicações, dentre as quais destacaremos neste momento “Acasos e Criação Artística”. Neste livro, publicado em 1990, ela lançou a seguinte questão: Não existe criação artística sem acasos. Mas será que existem acasos na criação?
A autora inicia o primeiro capítulo de seu livro se perguntando se são apenas meras concidências aqueles que nos parecem acasos significativos. Logo, ela se pergunta se, ao invés de estarmos fortuitamente atravessados por um acontecimento revelador, estamos, na realidade, percebendo algo que atende às necessidades da nossa própria subjetividade.
Fayga cita um fato de sua própria experiência criativa: Certa vez, ela estava recolhendo os materiais de trabalho – chapas para as gravuras, tintas e jornais que ela usara para cobrir o chão. Num lapso de instante em que se levantava, um feixe de luz que atravessou a janela fez cintilar uma macha e aquilo lhe chamou a atenção. Ela jogou no lixo o jornal, mas a mancha reverberou de tal modo em sua memória que veio aparecer mais tarde em sua criação. E ela se perguntara porque nas outras dezenas de vezes que ela procedera da mesma forma, com os mesmos materiais, ela nunca havia reparado nas manchas ou as percebido com tamanha fascinação.
Após citar sua experiÊncia, a artista plástica cita também um desses acasos ocorridos com um colega fotógrafo, que descobrira acidentalmente, a partir de um erro, um novo conceito para seu trabalho. Ele, sem saber, utilizou duas vezes o mesmo filme e, ao revelar, descobriu imagens justapostas aleatoriamente, mas que dialogaram perfeitamente culminando numa bela composição.
De acordo com a autora, cada artista terá seu próprio repertório de acasos, mas para se tornarem acasos, eles têm de ser percebidos por nós. E ela lembra: o que é a vida senão uma série de acasos consecutivos e desconexos? Afinal, somos bombardeaos a todo tempo de estímulos de toda ordem: temperatura, movimentos, sons, cheiros, cores, texturas – imagina se pudéssemos percebê-los, todos? Esses que percebemos podem se tornar acasos..
O fato aqui apontado, é que existe em nós uma seleção. E a importância que dedicamos a certos eventos fala de algo que já está acordado, ainda que de forma não consciente, na nossa subjetividade. A isto, Fayga chamará de acaso significativo e afirmará então que estes não são, de fato, programados, elaborados ou previstos - mas sim, já eram de alguma forma esperados: “as pessoas estão é receptivas; receptivas a partir de algo que já existe nelas em forma potencial e encontra no acaso como que uma oportunidade concreta de se manifestar. Por mais surpreendentes que sejam os acasos, eles nunca surgem de modo arbitrário…”
A cada indivíduo um manancial de necessidades, de desejos, memórias, potencialidades intelectuais e sensíveis. Em cada indivíduo um estado de espírito, um aqui, um agora, uma paisagem invisível. E Fayga diz, ainda, que apenas com a maturidade é possível reconhecer-se em seu potencial criador. E que a criação da identidade se dá no ato da assimilação desses acasos significativos e no entendimento de sua importância. São as escolhas que constróem caminho.
De acordo com a perspectiva de Fayga sobre os acasos, poderíamos dizer que os acasos nos revelam mais sobre nós do que sobre eles mesmos. E, segundo a autora, isto é também um dado de maturidade, uma vez que no universo infantil a percepção se dá a partir de um todo não diferenciado, sem qualificação na unidades que, interligadas, compõem.
Ela volta a afirmar que a fonte da criatividade artística é o próprio viver e que os acasos podem ser caracterizados, portanto, como momentos de elevada intensidade existencial. E para dinamizar sua reflexão acerca do tema, a autora recorre a comentários de diversos artistas, dentre os quais destaco o trecho de Pablo Picasso selecionado pela autora: “O importante na arte não é buscar, é poder encontrar”
Adiante, o capítulo investiga a inspiração sob o ponto de vista da psicanálise e se defronta com o olhar freudiano que aponta nos processos criativos questões relativas a infância, traumas e aspectos de campos recônditos das mente. Recorrendo principalmente a Ernest Kris, Fayga afirma que, no enfoque psicanalítico, a inspiração ainda é caracterizada como um processo de passividade, uma vez que o indivíduo está sujeito as manifestações inconscientes e rendido aos processos psíquicos desencadeados na infância. Fayga, todavia, discorda das teorias psicanalíticas e coloca ainda que estas interpretações estão sempre em busca de diagnóstico e ignoram estilo e os conteúdos expressivos da imagem, qualificando-as como meras ilustrações. O maior problema aqui apresentado pela autora é que não existe arte sem estilo. E o estilo é algo que caracteriza a escolha de linguagem, característica da fase adulta. Ela não duvida da influência dos desejos, traumas, culpas e recalques em geral do inconsciente nos processos criativos, mas não o definem. Afinal, como antes já estava dito, ela acredita que o trabalho artístico acontece a partir de toda a experiência de vida do criador. E só com processo de adultificação um indivíduo se torna capaz de discernir, elaborar, aplicar as ferramentas adquiridas apontando para um fim - a criação é uma conquista da maturidade.
Com base nisto, Fayga cita a mudança estilística de Monet do Impressionismo para o Expressionismo. E diz que apenas as novas realidades internas do artistas tornaram esta tranformação possível.
Ainda sobre o olhar psicanálítico para a inspiração e os processos criativos, a artistica plástica sugere que faltam ferramentas analíticas que possam interpretar os discursos não-verbais, e por isto esta lacuna entre artes plásticas e psicanálise.
Assim, Fayga Ostrower admite que a criação compreende em seu ato a totalidade do indivíduo considerando os planos do inconsciente tão indispensáveis quanto o consciente. E lembra que mesmo as expectativas inconscientes, quando se depararm com os encontros ao acaso, são sacudidas e desencadeiam intensos processos psíquicos. Isto é, o estado de disponibilidade receptiva é ativo e não passivo como defendido pelo psicanalista Kris.
Estamos escolhendo a todo tempo. E a percepção faz também parte disso. Mas já que a maturidade e os processos de adultificação nos permitem maior potencial de construção, que nível de escolha temos quanto a nossa própria receptividade? Quanto podemos alterar nossos padrões perceptivos? Isto não constrói, também, estilo?

Arte - Teatro, cinema e poesia numa só moda!


Quem não conhece aquelas almofadas, bolsas, canecas e uma série de outros objetos estampados com imagens do cinema? Tem até pantufa, sabiam? Pois é, o que alguns ainda não sabem é que a autora destes trabalhos é uma jovem com muitas outras criações a revelar.


Tatti Simões é artista plástica formada em comunicação, mas vem mesmo é do meio teatral. Foi com toda esta trajetória que ela chegou ao mundo da moda. Desde 2001 atuando neste mercado, seus artigos passaram pelo Mundo Mix, Babilônia Feira Hype, lojas do Grupo Estação de cinema e até lojas de museus, mas foi em 2003 que ela lançou a sua marca de design à qual batizou com seu próprio nome.

Toda esta bagagem artística aparece nas coleções de Tatti. Inspiradas no cinema, no teatro e na poesia, suas roupas transbordam criatividade. Apresentam um universo lúdico e poético com uma abordagem completamente original. Não é difícil perceber que por trás daquelas roupas tem alguém que não se intitula uma estilista, mas uma artista plástica que aplica sua arte nos tecidos recortados em estilosos moldes de saias, blusas e vestidos – “Porque eu queria mesmo era pegar um vestido e pintar como se fosse um quadro mesmo, entendeu?”- ela explica .


A coleção Alice no país das Maravilhas têm vestidos e saias bordados com personagens, cenas e trechos do texto de Lewis Carroll. Tatti dá um toque ainda mais autoral ao reinventar nas personagens algumas características: “Tem Alice ruiva, tem loira, tem castanha também”.entrevista site ao Bolsa de Mulher .



Além de Lewis Carroll, as poesias de Florbela Espanca e as flores de Frida Khalo também já foram inspiração e imagem de suas roupas. Enão somente esses renomados artistas são influência para suas criações. As próprias clientes também já puderam participar como co-autoras, fazendo de suas roupas peças realmente únicas e personalizadas. É que para o reveillon, Tatti chegou a lançar o look mais apropriado para a ocasião: um vestido bordado com nada mais nada menos do que os seus desejos para aquele ano. Era só pedir e o desejo era atendido em forma de linhas delicadamente bordadas. E tem novidade vindo por aí. Está saindo do forno a nova coleção: Quem quer vestir Shakespeare? Nas versões rosa e roxa, ficaram prontas as estampas que se basearam no universo do maior gênio da dramaturgia inglesa e universal. E já já poderemos desfilar o seu teatro por aí.


Além de trazer cinema, teatralidade e poesia para a moda,Tatti Simões leva o universo da moda às telas. Em seus quadros podemos perceber a forte presença da moda e do romantismo nas figuras femininas que aparecem com volumosos vestidos e, na maioria, são noivas.


Mesmo com uma rápida passagem pelo site, vemos os traços de encantamento e fantasia que caracterizam a arte e a moda de Tatti Simões. Em animação, o layout do site reproduz um cenário teatral cujos móveis expõem as roupas e acessórios da loja. Uma personagem vestida com um figurino assinado por Tatti entra em cena, liga a vitrola e sai. E, ao som de "La vie en rose", de Piaf, nos deixa todo aquele universo lúdico a explorar. Se você curte teatro, cinema, poesia ou moda, precisa conhecer a arte de Tatti Simões.



A obra de Tatti pode ser apreciada e adquirida através desse delicioso site http://www.tattisimoes.com.br/ ou mesmo na sua loja, que fica na Rua Visconde de Pirajá, 580 – 3 Piso em Ipanema, no Rio de Janeiro.




FONTE: www.tattisimoes.com.br | Bolsa de Mulher





quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Carta a um admirável diretor

Oi Jefferson,



fiquei pensando quinze mil duzentas e quarenta e nove vezes se eu te mandava esse email. Nada demais, mas incrível como uma coisa banal as vezes nos faz pensar demais. Imagina... Se eu mando ou não um email. è que as vezes as banalidades contém tantas outras coisas que... Bem, o fato é que assisti as peças e seus trabalhos sempre mexem comigo de uma forma que eu sei essas minhas palavras aqui não vão dar conta de explicar, mas mesmo assim vou fazer o possível. E a dúvida entre enviar e não enviar o email foi: "Caramba, o Jefferson não é muito dado a elogios, não vou mandar... Mas o trabalho é lindo, vale a pena ser comentado, ele não vai se incomodar. Ah, mas vai parecer piuguice. Ah, mas eu sou piegas, ué, qual o problema em ser pieguas?" Enfim, monólogo interior bombando só com o simples fato de mandar ou não uma porra de um email. Caralho, se todos os problemas do mundo fossem como essse... "Ah Alessandra, manda logo isso e pára de gracinha, vai!" Decidi mandar, já tô mandando.






Quarta-feira, estréia do 21.1. Não lembro ao certo que horas mas era a tarde e eu estava em casa pensando em que objeto levar, remexendo minhas pessoalidades, minhas memórias, minhas lembranças, pensando em que parte da minha vida valia a pena ser remexida. E um estalo: cara, que maneiro isso. Eu estou aqui, na minha casa, no meu quarto, com as minhas coisas, e o espetáculo já começou. E adorei isso, sobretudo porque em março apresentei a minha monografia e meu trabalho consistia justamente na minha própria história sendo dividida com o público através dos meus objetos que iam aos poucos sendo guardados em caixas de papelão. Era um péríodo de mudança na minha vida, conclusão da minha faculdade, minha pessoalidade sempre esteve em cena desde o primeiro período e foi a forma mais sincera que encontrei de concluir aquele ciclo de vida e arte, não necessariamente nessa ordem, mas certamente intrinscecamente ligados. O nome do trabalho monográfico é "Sobre Nós - um diálogo entre poesia, composição e improvisação na transpósição do pessoal para o artístico". Mas não estou aqui para falar do meu trabalho, no entato não pude deixar de falar, já que o que eu vivi no 21.1 tinha essa minha experiênciacomo antecedente. E já foi muito bacana remexer meus objetos para levá-los a um espetáculo, imagina fazer isso depois de ter feito um espetáculo com os meus próprios objetos... enfim, eu estava adorando aquilo. Cheguei no Sesc e a... ai, esqueci o nome dela agora.... Ah! A Liliane me pediu meus objetos. Entreguei a ela e quando vi, ela os estava guardando dentro de caixas de papelão! Virei para o meu amigo e falei: "Alê, olha, caixas de papelão!" Fiquei curiosíssima querendo saber o que eu ia encontrar lá, se ia ser parecido com o "sobre nós", se não, o que ia ser feito com os objetos pessoais do público, se iam nos inserir na cena, se iam, de que maneira o fariam (confesso que essa parte me deixou beeeeeeeem aflita! Tanto que a Miwa perguntava alguma coisa e as minhas respostas monológicas tinha por dentro um coração disparado dentro de um corpo duro e retesado. Menino, tenho pavoooooor dessas coisas. E ainda inventei de ser atriz, vai entender! Vai ver é isso, que é mais fácil estar dentro do que fora de cena)?Na cara e na coragem, entrei. E a cada instante eu ia me apaixonando mais. Aquele clima estável, conversa, todos temos uma história, de quem será esse objeto e que história esse objeto vai contar... o que cada um vai falar, como as pessoas vão se mostrar... Não sei dizer, Jefferson, mas sem catarzes o trabalho foi muito provocador, sabe? e que coisa mais linda a Miwa revelando no final que era o pai dela, aquele homem que vinha, e a mãe aquela mulher que esperava... E Jesus, maria, José, se eu tivesse no lugar do cara que ela pediu pra tocá-la no final... Eu nem sei, acho que ia ficar catatônica, estática, completamente paralisada. se mal eu conseguia responder as perguntas triviais que ela me fazia, rsrsrsrsrrs Imagina estar ali, diante de uma mulher nua, pedindo para ser tocada, na frente de vinte e tantas pessoas... Esse incômodo, esses lugares em que seus trabalhos nos colocam... É genial. E no fim, uma pergunta: será que a história do Leandro é verdadeira, será que os objetos são mesmo da avó dele? Será que aquelas trocas de cartas são reais? Será que o que a Julia disse era verdade? Sair provocado por tudo isso, é genial... E mais: como a falta de aplausos é maravilhosa, a continuidade que isso provoca. Começou como terminou, sem rupturas, sem quebras, sem dizer aqui começa ou aqui um "espetáculo". Tudo faz parte da vida. E adoro ver isso... Vida e arte tão misturadas, sem se confrontarem, sem perguntar onde começa e termina uma e outra coisa. Divino. essa questão me ronda tanto. Sei que ronda a arte contemporânea de um modo geral, mas ver acontecer, viver acontecer num a experiência como a tua proposição 21.1 é sempre bom demais. Obrigada por esses instantes, obrigada por me dar a oportunidade de me transformar e afirmar essas questões na minha vida, na minha arte - "em mim", talvez seja melhor dizer, para não separar levianamente uma coisa que está tão misturada com a outra.






Sábado, 05 de setembro, fui assistir 21.2. E mais uma vez fiquei encantada. Entrei ali, naquele bar, sentei e durante praticamente toda aquela 1h40 eu me sentia plena e admirada. Uma encenação tão simples e tão sofisticada ao mesmo tempo. É tão difícil qualificar o teu trabalho, Jefferson, porque eu acho que é justamente isso que ele faz. É como se ele descategorizasse as coisas e colocasse vida nelas. Sem a necessidade das decodificações. Ai, e aquele vestidoooooooooooooo, pelo amoooooooooor Deus, pai santíssimo e amadoooooo. Que coisa mais laranja e mais maravilhosa é aquela? Mas o mais bacana de tudo, é que a primeira coisa que me veio a mente quando a Luisa entrou em cena foi: "Gente, que mulher magra é essa?" A magreza dela era impressionante e me agoniou um pouco, até porque eu nunca a tinha visto pessoalmente e não podia imaginar que ela era tão magra. Até porque, sei lá porque, uma cosia engraçada, acho que a Luisa não tem cara de pessoa magra, sabe? Enfim, isso não vem ao caso. O fato é que pouco tempo depois, aquela magreza agoniante já tinha desaparecido dos meus olhos, porque o que eu via naquele dois, entre aqueles dois tomou proporções inomináveis. A gente está tão acostumado a ir ao teatro e ver personagens, e ver histórias, grandes cenários, e ver tanta coisa... O bacana ali era que eu estava vendo gente. E pra mim não tem nada mais deliciosa em teatro do que ver gente. Ontem mesmo, eu estava assistindo uma entrevista com o Matheus Nachtergaele e perguntaram a ele algo como que tipo de ator irrita ele quando ele está como diretor. Ele respondeu que ele gosta de todo tipo de ator, mas a única coisa que irrita ele é gente que não está verdadeira mente envolvida com o que faz, gente que não se mela daquuilo que está fazendo, que ele gosta de ver algo parecido com a vida. E acho que ele estava falando disso que eu vi ali. E acho que na verdade não é algo que se parece com a vida, né? Acho que é algo que é vida. Pelo menos pra mim, foi. Além de tudo isso, eu ainda estava vivendo um momento parecido com um instante que o casal Luca e hors viveu: a separação. eu estou vivendo um momento bem parecido e e olhei pra aquilo e vi tudo tão de verdade, vi tudo tão ali... o silêncio de uma separação, a incomunicabilidade, o estranhamento que acontece entre duas pessoas que até ali eram tão cúmplices, o abismo que se faz entre dois que já estavam tão misturados que nem sabiam mais o que ra de um ou de outro. E o vácuo que acontece dentro da gente. E o choro ininterrupto do fim, o entender que ali, acabou. Nesse omoento eu pensei: Gente, cadê a serra, porque uma gilete é pouco pra cortar os pulsos, rsrsrs. mas foi só um pensamento distaciado, entendeu? Eu não estava me sentidno assim! Eu me identifiquei com aquilo, era bonito, era verdadeiro, era denso, mas não era ua catarse trágica! E falei: filho da puta! Como que consegue fazer isso? Algo tão profundo, tão humano, tão verdadeiro sem ser excessivo, visceral a quinquagésima potência. Era para eu estar querendo cortar os pulsos, mas eu estava apenas identificando na Luisa o que de mim existia naquela vivencia. E esse "apenas" é tanta coisa... Aí eu me lebrei de uma frase que ouvi quando eu estava no primeiro período da faculdade, numa aula de teoria, o professor pergunatnd: Para que serve a arte?" E vendo 21.2 eu pensei: Cara, isso aqui me pergunta através da arte pra que serve a vida, e agora eu vou sair daqui, e vou me perguntar pra que serve a arte através da minha própria vida. E me lembre porque eu fui procurar fazer teatro da vida, pra que eu fui procurar escrever da minha vida, porque eu fui procurar fazer arte da minha vida e vida da minha arte... a vida por si só não deu conta dela mesma... e acho que a arte também não. Mas se não existe uma coisa nem outra separadamente, eu já estou me contradizendo, mas não tem problema, sinto que é algo por aí. E seus trabalhos sempre me ajudam a pensar sobre isso, a viver isso, a continuar me perguntando... Só que o mais belo disso tudo, é que parece que os teus trabalhos são tudo isso sem a pretensão de ser, e só por isso são, entendeu? Cara, parabéns de verdade, do fundo do coração (coisamais cliché e piegas... mas é verdade), é muito gratificante ter a experiência de entrar num teatro e experimentar tudo isso. Coisas que eu levro pra minha vida e que são, pode ter certeza, um aprendizado artístico, sempre. Um parabéns muito grato pra você e todos que estiveram presentes aí construindo esse trabalho. Vou colar aqui um poema que eu escrevi no ano passado, logo no início do meu processo de monografia... Acho que tem um pouco a ver com tudo isso, embora não dê a dimensão de nada do que eu vi...









TÍTULO


Quero ser no palco
letra de biografia romanceada
n'alma o que eu queria
era ser puro verso de livre poesia

e na vida , este conto inacabado,

o que eu poderia senão

essa mais plena ficção?.


.
...



Reticências no espaço do pensar diriam:
Se não houvesse nesse coração estúpido
tamanha pretensão
quereria mesmo ser versos sem rima
amor sem endereço
carta sem destino
ponto sem final
porque no fim
tudo vira vírgula
nada
no meio de qualquer coisa
sem essa de virar canção,
arte comentada,
bibliografia recomendada
nessa pobre rima
esse particípio que já foi
quisera tanto que esqueceu de ser

Esse querer mais-que-perfeito...
Há um tempo falando também
do futuro de um que se escondeu lá atrás
não se tocou que seu presente não tinha conjugação
talvez nem verbo
nem coisa nenhuma


E sem querer,
já é.


elA






Uma pena eu não ter assistido 21.3, ainda mais pq é com a Julia. Estou torcendo para que vocês ocupem outro espaço aqui no Rio. Vocês tem essa intenção? Bom, não sei se eu disse tudo, mas acho que eu disse o mais importante. Desculpe a pieguisse e os excessos... Tô trabalhando o comedimento, eu juro. Um dia eu consigo! rs.
Um beijo grande,
Lelê