Olhar pro outro e tentar enxergá-lo realmente, e mais, tentar sentí-lo de fato, fica cada vez mais escasso: estamos viciados em nós mesmos.
Arrotamos conceitos e palavras feitas, falamos daquilo que achamos que sabemos, elocubramos como nos convém e discorremos somente e sabiamente sobre nós mesmos quando, dissimulados, estamos falando de qualquer vida, de qualquer outro, de qualquer planta. Só assim nos protegemos do cerne dos instantes, só assim nos mantemos ilesos na superfície, só assim podemos ficar sob a ótica topográfica e soberana da cena.
Vendo tudo sempre a partir das mesmas perspectivas, usando sempre as mesmas respostas. Inclusive quando o que se necessita é só silêncio.
É tentador se impor aos instantes.
Recebê-los é uma arte pra poucos.