Arte, porque a vida por si só não deu conta dela mesma





sábado, 16 de junho de 2012

No sótão


Alguns brinquedos são inesquecíveis. E alguns momentos são como brinquedos. É que existem pessoas que gostam de brincar com as circunstâncias tornando a vida mágica. E    aquilo fica ali, num campo especial da memória, registrado. E é esse o caso.

O mundo do faz de conta é mesmo sedutor e eu devia ter uns seis anos mais ou menos quando essa máquina registradora da Glasslite entrou pra vida da criançada de 80/90. Mais ou menos na mesma época do pogobol, do castelo da She-ra, do estojo automático e do aquaplay. Ai, que saudades da aurora da minha vida, do meu Fofão querido que os anos não trazem mais...
Eu, como todas as meninas da minha idade, adorava aquele lance de ser a professora, a vendedora da loja e, como já seria de se esperar pela Glasslite, a caixa do supermercado. Me apaixonei pela caixa registradora e a quis como se fosse o último desejo da minha vida. Pedi de aniversário aos meus pais, que provavelmente iriam comprá-la no nosso fusca verde. Esperei por esse dia ansiosa. Ser caixa de supermercado naquele momento era o meu maior sonho.
Dia 29 de outubro chegou e eu acordei com aquela sensação de ser especial. Aquele era o meu dia. Fui ao quarto de minha mãe e sentei na cama forrada por um lençol bege claro estampado com uma espécie de trevos bege escuro quase verde musgo. Quase. Já naquela época o lençol tinha um tom sépia. Mas ele ainda não era antigo. Minha mãe me deu um "bom dia", um abraço, os parabéns e logo meu pai chegou por trás no corredor com um ritual parecido, eu acho. Não me lembro muito bem. Corta para a minha mãe me explicando com toda delicadeza: "Minha filha, você sabe... Papai e mamãe estão muito duros. A nossa situação está complicada. Você sabe..." - Nesse momento eu já comecei a murchar e na minha cabeça a imagem da minha máquina registradora ia sumindo e ficando pequenina, cada vez mais ao longe sumindo numa branquidão, mas ela ainda estava ali quando - "...e como a grana tava curta, só deu pra gente comprar mesmo isso aqui" - E eis que surge nas mãos da minha mãe o isso aqui - uma cestinha de supermercado com mini frutas de plastico. O isso aqui deveria vir acompanhando a máquina. Deveria...
Não. Não vou descrever a minha reação, vou deixar vocês imaginarem. Mentira. Não, não é mentira. Eu ia deixar vocês imaginarem. Mas eu tenho facilidade para mudar de idéia. Vou contar. Olhei pra cestinha com frutas de plástico, olhei pra minha mãe, depois pro meu pai. Peguei a cestinha. Não falei nada além de um sincero "obrigada". Era sincero, mas carregado de pena de mim e dos meus pais. Eles eram mesmo muito duros, minha mãe era muito nova e o dia-a-dia ali era sim bastante suado. E eu merecia MUITO uma caixa registradora da Glasslite. E o choro estava ali... entalado na minha garganta. Não como uma bala soft. Aquelas balas eram meio trágicas, eu lembro disso... E a situação não era trágica. Era só dramática. Eu fiquei bem arrasada, mas tentei disfarçar. Duvido que eu tenha conseguido. Até hoje não consigo muito dissimular minhas emoções. Elas brotam a flor da pele e o máximo que eu posso fazer pra diluí-las é postá-las num blog. 
Pois bem, passado esse instante, fui pra casa da minha avó. A minha avó é como uma segunda mãe. Nem sei se segunda. Uma co-mãe. E hoje, é também uma grande amiga. Domingo era dia de vó e aniversário também. Lá fomos nós. Entramos pela porta da cozinha, como de costume e fomos pra antiga salinha de televisão onde assisti VAMP muitas vezes. Minha avó me deu um beijo, os parabéns e imagine só o que mais ela me apresenta com risadas do meu pai e da minha mãe ao fundo: a minha caixa registradora! Primeiro eu entrei em estado de choque. Depois eu sorri, gargalhei, comemorei e registrei algumas compras.
Enquanto eu brincava de ser adulta, meus pais estavam ali, curtindo a brincadeira de pregar aquela peça e fabular uma história pra mim. Acho que eles nem calculavam o quanto essa caixa se tornaria tão registrada nas singulares lembranças que moram no sótão da minha nostalgia.
E hoje, pouco mais de vinte anos depois (naquela época eu jamais me imaginaria falando "mais de vinte anos depois"), uma constatação: de fato, a melhor parte  tá sempre na casa da avó, mas é tudo planejado.



PS: AOS NOSTÁLGICOS DE PLANTÃO
Fiquei sabendo ontem que estreou recentemente um novo canal Globo com desenhos antigos. E na sessão nostalgia tem Os smurfs, Popeye, He-man, She-ra etc.
NET - canal 30 (SD) e canal 557 (HD)
SKY - canal 287 (HD)
TV - canal 94 (SD) e canal 594 (HD)
TV (cabo) - canal 22 (SD) e canal 322 (HD)
Vivo TV (DTH) - canal 325 (SD) e canal 873 (HD)
GVT - canal 32 (HD)
OI TV - canal 87 (SD)
CTBC TV (cabo) - canal 35 (SD) e canal 235 (HD).
CTBC TV (DTH) - canal 335 (SD) e canal 935 (HD).
Via Cabo - canal 56 (SD) canal 456 (HD).

Segundo o diretor do canal, Paulo Marinho, o Gloob surgiu através de uma pesquisa feita pela Globosat que identificou uma “lacuna” entre os canais infantis. ”O público-alvo, na faixa de 5 a 8 anos, sai da primeira infância e abandona o canal Discovery Kids, mal encontra sua turma no Network ou na Nickelodeon, ambos feitos, em sua maioria, para crianças maiores. E é para preencher este nicho que surge o Gloob”.
Confira os horários dos clássicos no Gloob:
Os Smurfs: diariamente, 9h. Seg à sex, 15h30. Sáb, 21h30.
Popeye: diariamente, 22h. Seg à sex, 2h30. Sáb, 22h. Dom, 14h30.
He-Man: diariamente, 22h30. Seg à sex, 2h. Sáb, 22h30 e 2h. Dom, 15h e 2h.
She-Ra: diariamente, 23h. Seg à sex, 1h30. Sáb, 23h e 2h30. Dom, 15h30 e 2h30.
FICA A DICA!!!!!!

Fonte: http://retrotv.uol.com.br/

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