20.09.2013
A loja que abrigava a minha liquefação era aquela que fica ali num posto de
gasolina bem na Rua da Passagem no
bairro de Botafogo do Rio lindo de Janeiro. Tentei ligar pro meu namorado e ver
se ele me dava um cólo, um colchão, um caldo de compreensão, mas tem hora que a
coisa só nossa mora só na gente e não adianta quem diga “siga em frente”. É que tristeza as vezes se demora num tempo
só dela e precisa descansar em banho maria até escorrer e escoar os ecos que
vão sumindo e virando, no momento certo, pretérito.
É bem verdade que há quem prefira e até goste do desgosto e desmorona e
esmorece e escorrega o corpo porta abaixo e vai ao chão arrastando a dor até a
cama, a alma desbruçada no dilema feito drama de cinema. Não é meu caso não. Até
já foi. Mas não é mais.
O que me fez ficar assim, liquefeita e
liquidada, foi uma roleta russa que acertou bem a mira e, entre rumores de
suicídio, homicídio e genocídio - generalizada barbárie – atirou contra o jardim
no coração implantado.
O caso é que não gosto de mortes. Não conheço
quem goste embora saiba de povos orientais, eslavos e
indígenas que
celebram com rituais festivos a passagem de seus finados para outro plano. Outro
plano, aqui, ainda não é o caso.
Quem morreu?
Tento fazer um inventário de relíquias memoráveis moradoras de mim e o que me
vem são flaches recortes de textos, gestos, risos, choros, palavras e
músicas, vozes femininas, pedaços de mim
e de outros cortados e colados com girassóis, rosas e espinhos num painel cujo
enterro segue e a ser velado por minha sinfonia lacrimal a luz de velas e uma seleta
coroa de flores bárbaras: Begônia, Margarida, Tulipa, Camélia, Rosa, flor de
Lis, Crisântemos e Antúrio, Hortência.
Foi tanto que nem sei quão tempo empregado e impregnados de afeto, dedicação,
superação e coragem há de se destacar. Não sei quanto passado e planos, quantas
verdades e lembranças inventadas há nisso então. Quanta ficção, quanta cena, quanto
suor, quanta troca, quanta alma, quanto corpo e torpor, quanta dor, uma cadeira
de cada flor, cor, palavras de cór, Almodovar, Tim Walker, quanta substância de
amor se faz desritmar sem rima alguma, sem conversa, verso, nem prosa.
As rosas viraram sangue escorrendo dum balde de criação. Mais que resto, que renda.
Um ano e pouco se foi desde o início e agora, no fim, nem sei com o quanto de humano se pode contar quando o encontro
no horizonte está em cheque.
Um ano. Um tiro. Uma morte. Roleta Russa.
E agora ao meu luto, se me permite, retorno. Após
entornar algumas doses de lágrimas e cappuccino sabor alpino da Nescafé, enxugo
as lágrimas e me levanto. Prumo novo rumo. Já disse em algum lugar - perdi n’algum canto a vocação pra
ser triste e ganhei o poder cristal dos chistes. Algo com aquele lance de
escorpiana que lança mão da fossa, sai do poço
pro posso, renasce das cinzas e
alça vôo feito águia imensa no céu. É que (acho), sigo com fé em Deus, na vida,
e boto pé na estrada e amor na avenida.
A espiritualidade me aconchega e me diz na voz de Bethânea: "eu não ando só". E embora eu não goste
da dor que sinto nas mortes, acredito na reencarnação. Estou sóbria e de pé,
vivendo com arte e axé. Não dou ré, religião mas mais ainda ela, a fé. Talvez
eu só não goste de mortes por dor, mas mortes com amor...Essas talvez eu ainda
hei de inventar de escrever entornando sorrisos em novos papéis.
Hoje choveu em mim, mas li por aí que amanhã serão 21 e a primavera chega aqui.
Sim. Novas flores virão.
Sim. Novas flores virão.
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